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Blogs e seus seguidores mudam a cara da web

Por Micheliny Verunschk | Ilustração Jader Rosa
Imagine que você queira presentear aquele amigo descolado mas não saiba por onde começar. Ou que você queira estar a par de quem é quem na poesia contemporânea brasileira. Ou queira apenas uma resposta para a clássica pergunta: “Com que roupa ir à festa à qual você me convidou?”. Qualquer que seja sua necessidade, esteja certo, a resposta está na web. No entanto, para não se perder em algum dos muitos desvios desse percurso labiríntico, blogs e redes sociais viram referência em quase todos os quesitos da vida contemporânea ao indicar produtos, influenciar tendências e apostar na voracidade com que o público procura novidades e, claro, opiniões.

Uma indicação dada por um blog ou por usuários de uma rede tem peso diferente da que é dada por um veículo tradicional de comunicação, como uma revista ou um jornal, por exemplo. Tudo passa por uma questão de proximidade. Saber que uma pessoa comum deu uma opinião positiva ou negativa sobre algo traz um valor de verdade, de comprovação muito mais eficiente, pois afinal é alguém “gente como a gente” que está dizendo, e se diz algo é porque (teoricamente) experimentou, sabe do que está falando. E acredite-se ou não, há uma legião que frequenta a internet e se interessa pelo que o outro lê, escuta, consome, faz.

No miolo disso tudo, a maior motivação é que blogs e redes sociais funcionam como marca-páginas para a grande biblioteca de Babel que a internet se tornou. Filtrar é a palavra de ordem, já que o congestionamento de informações pode deixar o navegante à deriva, e os meios jornalísticos tradicionais não respondem mais com tanta eficiência às demandas contemporâneas. É preciso um poder organizador, é preciso criar relevância, é preciso qualificar. E é isso o que mobiliza blogueiros, seguidores, usuários de redes sociais, todos os atores dessa complexa e barulhenta teia de informações.

Os meus favoritos
Favoritos é o nome do blog que a arquiteta de informação Luiza Voll mantém. Com mais de 50 categorias de dicas, o blog dá seu aval para coisas tão distintas quanto “os videogames que fazem bem a você” e o Ripple, um site de responsabilidade social, no qual com apenas um clique o usuário patrocina uma mudança do “bem”, como o acesso à água limpa para uma família durante seis dias, entre outras coisas. Luiza, que utiliza mais de 500 sites como fonte, fala da motivação que a fez criar o blog: “Sempre adorei compartilhar minhas descobertas na rede. No início, mandava um e-mail para os amigos mais íntimos que encaminhavam para outros amigos e assim o conteúdo se espalhava. Como a cada dia mais pessoas me pediam que lhes enviasse esse e-mail, decidi colocar tudo em um blog, que é acessível a todos. O nome veio naturalmente, não poderia ser outro”.

Mas nem todas as indicações são, digamos, objetivas. Para quem pensa que os blogs não têm coração, a página de Luiza protagonizou uma história para geek romântico (espécie contemporânea de nerd) nenhum botar defeito. Um casal tinha por hábito ler o Favoritos todo dia pela manhã. Um dia, brigaram e se separaram e o rapaz mandou um e-mail pedindo ajuda para reconquistar a namorada no espaço do blog. A blogueira aceitou o desafio e publicou o post “Denise, volta pro Michel!”. Segundo Luiza, o post rendeu pano pras mangas na história do casal e mais de 80 comentários de leitores dando “pitaco” no romance e repetindo o apelo.

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Consumo e o outro lado da moeda


Para o publicitário André Montejorge, criador do blog Bem Legaus, as pessoas são ávidas por itens interessantes e consumistas por natureza. Para ele, que gasta cerca de quatro horas diárias na atualização da página, ela funciona como um filtro para o consumo. O perfil das pessoas que frequentam o Bem Legaus é plural, afirma. “O público é extremamente variado. De superjovens a idosos. As classes sociais também variam muito e consigo trafegar com sucesso em qualquer meio, principalmente porque o Bem Legaus é objetivo e direto, com um formato saia-e-blusa: título, texto e foto.” Segundo ele, o blog é acessado na grande maioria por brasileiros, “mas também recebe muitas visitas de Portugal e de outros países da Europa. O bacana mesmo é saber que ‘o mundo’ já visitou meu blog”.

Isso também chama atenção para o outro lado da moeda. Se existem pessoas ávidas por informação e opinião – leitores fiéis que não apenas seguem determinados blogs, mas aumentam o status de quem os criou ao engrossar a fileira de seguidores -, é porque há os interessados em se tornar formadores de opinião. Virar referência agrega valor e pode render outros frutos. “Com o Bem Legaus, fui convidado a escrever para outros blogs, dou entrevistas, passei a fazer parte de um projeto do Yahoo! Brasil, ganhei o Best Blogs Brazil 2008, entre outras coisas”, explica. “Também recebo propostas de parcerias, de posts patrocinados, de gente querendo anunciar etc. Ou seja, faço uma coisa que gosto, sem compromisso, sou admirado e reconhecido por isso e ainda me inspiro e aprendo coisas que auxiliam a minha profissão”, conclui Montejorge.

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O fim dos seis graus de separação


Para Fernando Souza, um dos criadores do Twitter Brasil, a rede social do momento, o que motiva a febre por seguidores é a busca pelo sucesso e pela audiência. Entretanto, Souza lembra a equação básica, na qual quantidade e qualidade nem sempre dão o resultado esperado: “Quem o está seguindo? Talvez uma pessoa com menos seguidores possa ter uma relevância muito maior se o conteúdo que publica é mais bem-selecionado e seus seguidores sejam pessoas com um perfil semelhante. Sendo assim, essa busca pela autorrealização através de números não é uma real obtenção do status desejado”, diz.

Para os interessados nessa hiperconectividade, há ferramentas para todos os gostos, que trazem consigo a promessa de manter o indivíduo ligado ao mundo e, consequentemente, a tudo o que acontece, extinguindo para sempre os míticos seis graus de separação. FeedsTechnorati e o próprio Twitter, entre outros, são opções para quem quer saber de tudo e de todos, controlando números, estatísticas e até o cotidiano dos amigos. “É tanta opção, tendência, modismo, que dá vontade de fugir de tudo. E o grande mal é que se você não está em todas as linhas de frente, ou em quase todas, parece que está ficando para trás, está ficando defasado”, diz Montejorge.

O risco de tornar esses recursos em discursos vazios é real. Mas se bem-utilizados podem se transformar em mapas valiosos, seja para quem se interessa por temas de maior densidade, seja para quem quer apenas se divertir. Blogs e redes sociais “atuando” como bússolas são o presente da navegação no ciberespaço e também apontam para o futuro, pois nesses caminhos ainda há muito o que se descobrir, há muito por fazer. Enquanto isso, é melhor consultar um blog para ver qual a melhor opção de roupa para uma balada informal numa noite de inverno nos trópicos.

Links para download da revista em pdf – Site oficial

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Link da matéria – Julho de 2009